sábado, 30 de abril de 2016

A Cor da Relação

A Cor da Relação

“Demorei muito para me enxergar como uma pessoa potencialmente bonita. Na fase escolar, não me lembro de ter sofrido aquele racismo duro. Passei a enxergar isso por volta de 13, 14 anos, quando a gente se interessa pelos meninos. Todo mundo tinha um parzinho, menos eu. Atribuía isso ao fato de não ser bonita. Identificava que tinha uma estética diferente daquela que na escola era importante, como o cabelo liso, por exemplo. Enfim, essas coisas que, depois de adulto, a gente aprende a relevar. O meu papel, naquela época, era o da amiga que faz a ponte para as outras ficarem na festinha.É isso que pega na autoestima. Se eu ficasse com alguém, nunca tinha brecha para virar uma coisa a mais.
A família do branco tem sempre uma resistência maior. Era sempre um momento de tensão. Ficava na dúvida em dizer: ‘Avisa a seus pais que sou negra’. 
O que muita gente não enxerga é que a preterição das mulheres negras é algo que a sociedade nos ensina. A mulher negra supostamente é boa para o sexo e para as relações superficiais, mas não para o casamento, a maior prova disso é você estar com uma pessoa e ela até gosta de estar com você, se for em casa ou em locais de pouco fluxo de pessoas, as vezes ele já deixa claro que não quer relacionamento serio mas ai da um tempo a pessoa some e do nada aprece na rede socail relacionamento sério e veja só a namorada não é negra, é loira, é branca, é padrão aceito pela família por amigos e pela sociedade. Nesse jogo, as mulheres ficam relegadas até para os negros. É uma pequena morte você não ser viável para ninguém, nem para quem deveria ser seu par "natural".
 A sociedade não está preparada para a estética negra. Demorei muito para me enxergar como uma pessoa bonita, passível de relacionamento, e agora não tenho que passar por tudo isso de novo.
O casamento implica, inclusive, ter filhos, e filhos negros. E, para algumas pessoas, isso é um terror. Talvez nem associando à cor da pele, mas ao cabelo duro. Por isso, muitas mulheres negras começam a amenizar os traços para entrar em uma estética tida como mais bonita. Eu quero que meus filhos sejam negros, que tragam na pele o simbolismo que minha família tem. Sou criticada quando falo isso. Uma tia falava que a gente tinha que ter essa preocupação de amenizar os nossos traços. Acho isso uma violência.
As mulheres brancas, via de regra, se casam mais, consolidam família, permanecem mais tempo casadas. Antigamente, para a mulher branca, o futuro almejado era ser esposa e dona de casa. Já as mulheres negras tinham que trabalhar para se sustentar. Para as negras, que durante muito tempo nem poderiam se casar, a família acontecia sem a presença de um homem. Por isso, entendo que exista essa fixação de se casar no papel. É a afirmação de uma afetividade que sempre lhes foi negada.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário