sábado, 30 de abril de 2016


Amor sem preconceitos

É difícil encontrarmos casais onde um é mulato e o outro, loiro; um negro e o outro de olhos puxados. Mas mesmo sendo raros, os relacionamentos inter-raciais estão aí, mostrando que muita gente, na hora de amar e ser amado, desafia os padrões sociais.

Diz aí, quantos casais formados por uma pessoa de cor negra e outra de cor branca você conhece? E casais onde um é de descendência japonesa ou indígena? A reportagem resolveu providenciar uma pequena e despretensiosa pesquisa e saiu por aí fazendo essas duas perguntas a um monte de gente. Os dados colhidos não foram minuciosamente analisados por antropólogos, historiadores, cientistas sociais e estatísticos, não. Mas basta passar para vocês as respostas mais freqüentes dadas pelos entrevistados. Tanto para a primeira quanto para a segunda pergunta, a resposta campeã das campeãs foi: "um" (sendo que muitos disseram, instintivamente, “um só”). É realmente raro encontrarmos parceiros com pés em continentes diferentes: um negro, outro de olhos puxados; um mulato e outro loiro de olhos azuis. Só que mesmo representando uma porção bastante reduzida dos casais, os relacionamentos inter-raciais estão aí, mostrando que hoje - provavelmente mais do que nunca – tem muita gente que, na hora de amar e ser amado, desafia o preconceito, os padrões sociais e até a própria família.
Em pleno século XXI e, principalmente, num país de população completamente miscigenada – onde classificar um indivíduo como branco, negro ou pardo não é tarefa fácil, como já provou a polêmica sobre distribuição de cotas nas universidades – dois apaixonados de cores ou descendências diferentes ainda enfrentam grandes dificuldades. E parece que a família (geralmente a do representante branco da relação) é o maior dos obstáculos a ser ultrapassado. Isso quando não é o complô familiar que vence a batalha, como ocorreu com a administradora Rafaela B., que não esquece do caso que teve com um rapaz negro, dono do melhor beijo na boca que deu em sua vida. “Foi legal demais. Ele era lindo! Mas a relação não foi pra frente por preconceito da minha família. Não aguentei a pressão. Ele era todo apaixonado por mim, e eu tava me envolvendo também, mas um dia minha mãe me viu conversando com ele na porta do prédio e perguntou quem era aquele "favelado". Porque, além de negro, ele era pobre, sabe? A partir daí, ela ficava fazendo esses comentários, aí achei melhor acabar por ali para não me aborrecer. E detalhe: minha família toda é de português misturado com negro, todo mundo tem os dois pés na África”, protesta Rafaela, que hoje já está casada... com um loiro de olhos azuis. “Minha família é preconceituosa demais. Sempre briguei muito com eles por causa disso. Meu marido é o queridinho da família. Se ele não fosse loiro de olhos azuis, não sei como seria. Só que ele é gordinho e baixinho e até por isso eu ouço meus parentes fazerem comentários preconceituosos”, revela a administradora.
O publicitário Rodrigo Faria, de 25 anos, também sentiu o peso do preconceito por parte de sua família quando escolheu sua primeira namorada, uma mulata de fazer parar o trânsito. “Ela era venerada por sua beleza. Não tinha uma pessoa que não achasse ela linda. Até a minha mãe, que implicava com o fato de ela ser negra, achava. Mas só sabia pensar e reclamar que teria netinhos negros. Eu com 15 anos de idade e ela já falando em netos!”, conta Rodrigo, que também já namorou uma japonesa. Com essa, sua mãe não implicava tanto. “Minha mãe gostava da japonesa. Acho que não se importaria tanto de ter netos de olhos puxados. Vai entender! Cada um com seus preconceitos, né?”, diz Rodrigo, que, como se pode ver, é bem chegado numa mulher exótica. “Agora estou saindo com uma índia! Eu gosto de estrangeiras e pessoas exóticas. Me atraem muito. Cada pessoa, independentemente de raça, da religião e das preferências, tem algo a ensinar. Eu gosto de experimentar coisas novas, aprender com os outros diferentes maneiras de olhar o mundo”, filosofa o publicitário.
Sem dúvida, muito já se evoluiu quanto à aceitação de relacionamentos inter-raciais. Isso porque a própria luta pela valorização do negro, não só no Brasil, como no mundo, já alcançou conquistas consideráveis. O estudante de medicina Tiago Campos, de 26 anos, é um exemplo de como essas questões aparentemente tão conflituosas, podem ser encaradas de maneira simples. “Eu não sou nem negro: sou azul de tão preto. Se tiver de noite e eu não sorrir pra foto, nem apareço!”, brinca o médico. Das três namoradas que Tiago teve, todas eram brancas. A atual inclusive é loira. “É loiraça de chamar atenção. Quando está comigo do lado, então! As pessoas olham, às vezes ouvimos alguém comentar alguma coisa, cochichar... É normal. Confesso que não é agradável, mas o que importa é a maneira como o casal pensa e lida com isso”, afirma Tiago, que diz não se sentir nem um pouco desvalorizado pela família da namorada. “Sempre fui muito bem tratado e respeitado. Acho que a família dela prioriza outras coisas, como o meu trabalho, meu caráter, a relação que tenho com meus familiares. Eu sei, por exemplo, que o ex-namorado dela não agradava muito aos pais, não. Já ouvi dizerem que ele era meio vagabundo e infantil. Mas era branquinho da silva, está vendo?”, compara.
Gente desprendida assim como Tiago não se acha facilmente por aí. Muitas pessoas acreditam, aliás, que, em alguns casos, o preconceito parte do próprio negro. O analista de sistema Manoel Cardoso, de 42 anos, era doidinho para namorar a amiga de um grande amigo seu, quando ainda era jovem. Só que não conseguiu dela nem uns beijinhos... “Eu achava ela muito interessaste, uma pessoa superbacana e, ao mesmo tempo, bonita. Um dia estávamos eu, meu amigo, ela e mais uma menina no carro, dando um passeio pela orla. De repente passou um cara correndo pela rua que nem um louco. Todo mundo olhou espantado, disseram: ‘que maluco!’, e eu acrescentei: ‘ele é branco, vão achar que é atleta; se fosse negro, iam achar que era ladrão’. Depois desse dia, a menina nunca mais falou comigo. Criou uma rejeição a mim tão forte, mas tão forte, que chegamos a morar no mesmo prédio e ela nunca se dirigiu a palavra a mim. Tem gente que tem a alma armada por ter sofrido tantos preconceitos, sei lá... Só sei que ela perdeu a chance de conhecer melhor e até namorar, quem sabe?, um cara bacana como eu”, brinca Manoel.
Para a psicóloga Olga Inês Tessari, o preconceito é mesmo a fonte de todos os problemas que não só impedem os relacionamentos inter-raciais de se prolongarem, mas também de se iniciarem. “Há várias razões que explicam o porquê de os casais evitarem a mistura de ‘cores’ e todas elas estão ligadas ao preconceito racial que, ainda que seja de forma velada, continua forte. Eu me lembro da minha avó, que era polonesa de olhos azuis e nunca havia visto um negro antes de vir ao Brasil, me dizendo que se eu namorasse um, eu podia esquecer que ela existia. Todas as vezes que eu ia à praia e voltava queimada de sol, ela simplesmente não olhava na minha cara. Quando eu ia conversar com ela, ela respondia secamente: ‘não tenho neta negra’. Como ela poderia ter preconceito se nunca havia conhecido negros? Certamente criou seu preconceito baseada no fato de que negros têm usos, costumes e valores muito diferentes dos de uma européia. Além de se deixar levar pelo preconceito racial vigente no Brasil, onde negros, oriundos da escravidão, são tidos como pessoas sem valor, sem educação, cultura e das camadas sociais mais baixas. Eu já ouvi, por exemplo, de um pai de filha branca que se relacionava com negro a seguinte frase: ‘como ele vai sustentá-la se os negros são preguiçosos, não são ambiciosos?’ Uma generalização sem qualquer comprovação e fundamento, mas que revela a forma como a sociedade encara o relacionamento inter-racial”, analisa Olha Inês.
Parafraseando o rapper Gabriel O Pensador, em Lavagem Cerebral, “o preconceito é uma coisa sem sentido”: “O que importa se ele é nordestino e você não? O que importa se ele é negro e você, branco? Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços (...) A raiz do meu país era multirracial / Tinha índio, branco, amarelo, preto / Nascemos da mistura, então por que o preconceito? (...) Uns com a pele clara, outros, mais escura / Mas todos viemos da mesma mistura”. Olga Inês também chama atenção para o fato de o povo brasileiro ser fruto de uma grande miscigenação e que, nem que seja aos poucos, os (pré)conceitos estão se modificando. “Se não me engano, o último Censo revelou que mais de 50% da população brasileira é de etnia africana. São Paulo, por exemplo, é a maior cidade com concentração de nordestinos do Brasil: a cada quatro pessoas, uma é nordestina. Temos visto no mercado o aumento de produtos específicos para pessoas de etnia afro, seja porque os negros têm aumentado seu poder aquisitivo, seja porque os conceitos realmente estão mudando”, finaliza Olga Inês.

Mulher Negra,nem escrava, nem objeto...

Uma das maiores particularidades do racismo brasileiro é o modo como o preconceito se esconde sob a máscara de um país racialmente democrático. Com a justificativa de que o Brasil não enxerga cor e que é composto quase totalmente por pessoas miscigenadas, discursos de ódio são reproduzidos a todo momento. O racismo dos brasileiros está na vida cotidiana, muitas vezes em atitudes sutis e comentários aparentemente inofensivos. Essa realidade cria limites muito palpáveis sobre as possibilidades e oportunidades das pessoas negras, podando as opções de quem podem ser e até onde podem chegar na vida.


Não é por acaso que uma das lutas atuais do movimento feminista negro é pela quebra de estereótipos; por meio dos estereótipos e papéis sociais impostos para as mulheres negras, a questão do racismo acaba empurrada para debaixo do tapete. Onde há discriminação e exclusão, levanta-se uma falsa admiração, que na realidade é objetificação sexual e exotificação da mulher negra. Ou seja, para cobrir o preconceito que vem sendo nutrido e espalhado há séculos, rotula-se a mulher negra com as poucas permissões que lhes são concedidas. Para gerar a consciência antirracista tão necessária, é preciso em primeiro lugar compreender a violência das caricaturas impostas às mulheres negras.

A ESCRAVA:

O estereótipo de mulher trabalhadora e incansável é um dos mais antigos e reforçados, vigorando há centenas de anos e se adaptando às mudanças econômicas e culturais da sociedade. Se séculos atrás a mulher negra era usada e explorada como trabalhadora braçal, supostamente dotada de resistência física infinita, na contemporaneidade esse papel continua sendo intenso, as mulheres negras ainda são exploradas em campos de trabalho escravo, que ainda existem nos dias de hoje. Muitas delas são obrigadas a trabalhar em condições precárias e perigosas em troca de um valor monetário insignificante, estando presente na grande maioria das cozinhas dos lares brasileiros, mas praticamente nunca como grandes chefs da gastronomia e sim como eternas subalternas, que vivem para servir as famílias brancas e ricas.

Não importa se querem sonhar mais alto ou se têm algum problema legítimo, se estão doentes ou passando por um período de luto – algo bastante frequente devido ao genocídio policial contra os homens negros -, as mulheres negras nascem e crescem com poucas alternativas. Para muitas, é difícil alcançar outra coisa além do trabalho doméstico para famílias brancas, geralmente em forma de faxinas pesadas e salários baixíssimos. A mulher negra é a maior trabalhadora de nossa nação, porém não possui seus esforços reconhecidos; ao invés disso, sua dignidade é barganhada com ameaças de demissão e risco de desemprego.

Mesmo na televisão, nas novelas ou nos filmes, a mulher negra só aparece para representar a escrava de tempos antigos ou a empregada doméstica atual. De que forma, então, pode se esperar que meninas e adolescentes negras consigam se ver em profissões adequadas, em vivências plurais e dignas? É por isso que tal estereótipo de guerreira e batalhadora é tão nocivo: sua existência poda o potencial e a autoestima dessas mulheres, servindo como grilhões de sua liberdade.

O OBJETO:

Para as mulheres negras que não são vistas como escravas do trabalho braçal, resta o rótulo do trabalho sexual – igualmente exploratório e limitado -, que existe sob a pretensão de elogio, atuando como uma exibição de pedaços de carne baratos e hipersexualizados, como se uma tendência à “promiscuidade” fosse característica genética.

Não é preciso pesquisar muito para encontrar em qualquer rede social uma enxurrada de charges e imagens que apresentam garotas negras como “vulgares” e irresponsáveis, que engravidam ainda na adolescência e não aprendem nunca a lição. Mesmo mulheres negras com um maior nível econômico, como por exemplo a atriz Taís Araújo, são vítimas da objetificação, como pode ser notado no próprio nome da novela da qual ela foi estrela, “Da Cor do Pecado”. Seja por meio de eufemismos ou discursos hostis, a mulher negra sempre transita entre a indesejabilidade e a exotificação: às vezes, é considerada tão feia e nojenta que todas as partes do seu corpo são causadoras de ojeriza, mas por outras consegue se enquadrar no papel de “mulata” sensual e provocante.

A questão é que exotificação não é elogio, é objetificação. Não há qualquer valorização ou prestígio em marcar todo um grupo de seres humanos como produtos com valores comparáveis. Isso é uma das formas mais perversas de racismo, pois está oculto e disfarçado, sendo frequentemente confundido com inclusão. No entanto, basta um pouco de senso crítico para perceber que a preta “da cor do pecado” não é verdadeiramente aceita em sociedade, ela é vista como o terror das pobres donas de casa, como a sujeita sem moral, oportunista e interesseira, que destrói casamentos e faz do mundo um lugar menos limpo. Essas afirmações podem soar muito fortes, mas essa é a realidade das milhares de meninas sexualmente abusadas, que apesar de serem crianças, não encontram defesa, pois desde a mais tenra idade são consideradas provocantes e feitas exclusivamente para o sexo.

O que esses estereótipos possuem em comum é a redução da mulher negra ao seu corpo, ou seja, às supostas características intrínsecas que possuem desde sua formação genética. Por serem retratadas como mais fortes e naturalmente mais sexuais, todos os tipos de violação de direitos humanos são impostos às meninas e mulheres negras.

No mês da Consciência Negra, ainda falta muito chão para que o Brasil consiga dar às suas cidadãs negras a valorização que merecem. Até que ponto as pessoas são capazes de refletir a respeito desses exemplos e trabalhar no enfrentamento do preconceito? Pode ser difícil ir além da superficialidade dos discursos de inclusão, mas sem a quebra de estereótipos, jamais será possível extinguir, ou mesmo amenizar o problema do racismo.

A conquista da Identidade

A conquista da Identidade

A conquista da identidade 
As conquistas do povo negro e a valorização de sua identidade caminham juntas, mas são os(as) próprios(as) negros(as) que podem se deixar enganar. Até mesmo militantes do Movimento Negro deixam se entorpecer por meias conquistas, se convencendo que é pouco, mas que “é melhor do que nada”. Ainda há muito que lutar e não deixar que organizações oportunistas se apropriem das causas negras. O conformismo é um grande vilão na militância pelo reconhecimento dos direitos do povo.
 
“Hoje o olhar de mamãe marejou só marejou
Quando se lembrou do velho, o meu bisavô
Disse que ele foi escravo mas não se entregou à escravidão
Sempre vivia fugindo e arrumando confusão
Disse pra mim que essa história do meu bisavô, negro fujão
Devia servir de exemplo a “esses nego pai João”
Disse afinal que o que é de verdade
Ninguém mais hoje liga
Isso é coisa da antiga”.
Trecho da música Coisa Da Antiga, de Neil Lopes e Wilson Moreira.

Não a vitimização negra!

Não a vitimização negra!

Então hoje vamos falar de racismo. Sim, racismo ou preconceito racial ou injuria racial,..., porque agora o racismo se subdividiu em 500 mil categorias diferentes que colocam o racista em uma posição de 'Não Racismo'.
Mas não vou aqui desabafar, vou ser clara e objetiva...

"Passado é passado, os negros ficam se fazendo de coitados falando da escravidão, até hoje, a escravidão já acabou tem mais de 100 anos e vocês continuam falando nisso..."

Eu, mais do que ninguém, gostaria de não falar mais nisso; e se você também não quer, então concordamos nesse ponto. Logo, para pararmos de falar nisso... pare de se espantar por uma negra  ser professora universitária, ache normal ela ter mestrado, doutorado e não  ser faxineira, ache normal a empregada domestica da  casa dela ser branca, loira de olhos claros e ela, negra com cabelos crespo, ser a dona da casa.

"O Joaquim Barbosa não precisou de cotas"
Desde 1829, quando o primeiro ministro do STF - Superior Tribunal Federal assumiu, Joaquim Barbosa é o primeiro negro, em 186 anos a ocupar o cargo de presidente do STF. EM 186 ANOS! Mas eu acredito que todo negro deve batalhar e conseguir tudo pelo próprio esforço, pois temos as mesmas chances que todos...EM 186 ANOS!
 
"Só pode ter entrado pelas cotas"
Então você concorda que as cotas são necessárias para que um negro, ocupe os espaços acadêmicos predominantemente brancos, porque a partir do momento que você diz "Só pode ter entrado pelas cotas" entendo que você também diz que sem a cota eu não conseguiria estar ali, logo aquela vaga seria ocupada por alguém que seria então não negro, no caso, branco....Ufa! Ainda bem que você concorda com a necessidade das cotas para que eu, negra, esteja ali.
"Agora acham que no Brasil só existem negros e brancos, somos um povo misturado, mestiço"
Claro que não, existe o moreno, o chocolate, o moreno claro, moreno médio...aliás a história dos morenos médios para a construção do país é incrível e outro dia eu estava lendo sobre o povo chocolate e fiquei surpreendida, alias na minha certidão de nascimento está assim Cor: moreninha não tão escura. Então não sou negra, ufa!
Agora eu faço uma pergunta a você. Você é negra? Como se define isso? Gente, ser negro é mais do que ter a pele escura. Deixa eu dar a definição de raça, a raça é definida pelo conjunto de características hereditárias físicas, como a cor da pele, tipo de cabelo, traços do rosto, e etc. A definição de raça não é dada por quantos tons suas pele se aproxima da cor branca ou da cor preta.
"Não deveríamos ter consciência negra e sim consciência humana"
Concordo, então como defensor da consciência humana que você é, pare de fazer piadinhas sobre o meu nariz "de batata", expressão pejorativa que de tanto ser repetida, ficou comum. Pare de rir do meu cabelo crespo quando eu passo na rua. Pare de achar estranho um homem branco casar com uma mulher negra.
 
 
 

Elogios mais conhecidos por mulheres negras!

"Elogios " mais conhecidos por mulheres negras!

"Ter relações com uma mulata" não lhe fará menos racista.
Elogio racista é toda demonstração de admiração, afetividade ou carinho que se concretiza por meio de ideias ou expressões próprias ao racismo. Com ou sem a intenção de, que fique bem claro. Um dos mais conhecidos é o famoso “negro de alma branca” que nossos antepassados tanto ouviram. Mas não são apenas nossos homens que conhecem muito bem os elogios racistas. Nós mulheres negras também somos agraciadas com esses pequenos monstrinhos, usados inadvertidamente por amigos, familiares. 

Decidi fazer uma lista com 5 elogios racistas (e sexistas, diga-se de passagem) que muitas de nós escutamos quase que diariamente. Alguns são consenso, acredito. Outros nem tanto. Fico aguardando ansiosa para que você, mulher negra, deixe seu comentário dizendo se também acontece com você.

01. “Você é uma morena muito bonita”
 
Esse é o elogio racista que mais escutei em toda minha vida. Minhas primeiras lembranças são do tempo da escolinha. Mesmo mulheres como Adriana Alves ainda são chamadas de morenas, pois se acredita que chamar alguém de negra é uma ofensa racial. Se você precisa se expressar, tente um simples “você é bonita ou atraente”. Ou ainda “você é uma negra linda”, o que, dependendo do contexto pode ser tão ruim quanto.
Mas em hipótese alguma diga que uma negra é morena, moreninha, morena escura. Que não é negra. Isto sim é racismo dos graúdos, pura e simplesmente. Quando acontece comigo, digo que não sou morena e nem moreninha, sou n.e.g.r.a. O bom é que, dependendo de como essa resposta é dada, a pessoa já se toca que ela não deveria ter começado o conversê, que simplesmente não estou disponível para esse tipo de diálogo. Nem com conhecidos, muito menos com estranhos.
 
02. “Seu cabelo é muito bonito, posso pegar?”
 
Há alguns anos atrás, uma senhora ultrapassou todos os limites de uma convivência pacífica ao se aproximar de mim, cheia de dedos, me tocando sem permissão e dizendo que eu tinha uma “peruca muito bonita”. Não retruquei de caso pensado, antecipando seu constrangimento por jamais ter cogitado que uma mulher negra pudesse ter um cabelo comprido, ao natural. Minha vingancinha, e sou dessas, foi olhar aquela expressão de arrependimento por ter percebido o que fez.
Entendo que simples visão de uma negra com cabelo natural pode ser inebriante. Que persiste a completa desinformação sobre o nosso cabelo. Porém, isso não justifica o toque sem permissão. Não importa se é cabelo natural ou não. A menos que você conheça muito bem a pessoa, não toque em seu cabelo sem consentimento. Eu iria mais longe. Para mim a boa etiqueta simplesmente reza que não se deve nem mesmo pedir para tocar o cabelo de uma pessoa desconhecida.
 
03. “Você tem os traços delicados”
 
Dizer que uma negra tem traços “delicados” muitas vezes tem a ver com a ideia de que será bonita se tiver uma expressão “fina”, leia-se semelhante a de uma pessoa branca. Como se determinado tipo de nariz (ou bochechas) fosse exclusivamente dessa ou daquela etnia. Uma de suas variantes é outra expressão igualmente racista – “você é uma mulher negra bonita” – algo que ao meu ver é a mesma coisa de dizer que “você é bonita para uma negra”.
Afinal, qual a dificuldade de dizer que uma mulher negra simplesmente é… Uma mulher bonita?  “mulher negra bonita” enquanto as mulheres brancas são apenas “mulheres bonitas”? Mais uma vez, toda a sutileza do elogio racista. Ele reconhece que você é uma pessoa admirável, mas sempre fazendo questão de te colocar “no seu lugar”, como se algumas fronteiras jamais pudessem ser cruzadas.
 
04. “Você tem a bunda linda”
 
Essa é uma opinião que certamente não é unânime. Faço questão de expressá-la como uma provocação que representa o pensamento de uma parcela significativa de mulheres negras. Para muitas de nós, esse comentário expressa a hiperssexualização a que somos historicamente submetidas como exemplifica a triste biografia de Saartjie, denominada a Vênus Hotentote, exposta como atração circense em função da admiração que suas nádegas causaram na Europa do século XIX.
Apesar de todo respeito que tenho por tudo aquilo que acontece entre duas pessoas, preciso considerar a tradição racista secular desse tipo de discurso. Trata-se de reduzir a mulher a um pedacinho do seu corpo, desconsiderar sua humanidade, transformá-la num pedaço de carne exposto no açougue como aconteceu e acontece diariamente. Meu conselho é pergunte antes se a mulher a quem você pretende cumprimentar tem a mesma leitura desse tipo de elogio.
 
05. “Você é uma mulata tipo exportação!”
 
Esse elogio ainda o tratamento dispensado à mulher negra no seio da senzala, da casa grande. O pensamento que nos reduz em brinquedos sexuais. Dizer que uma mulher negra é uma “mulata tipo exportação” é esquecer uma tradição escravocrata secular, que transforma a mulher negra em “peça” que alcançará boa cotação no mercado onde a carne mais barata é a nossa. O nome desse mercado é exotificação. Em alguns casos, hiperssexualização.
Infelizmente também estamos falando sobre o modo racista com que as mulatas de escola de samba, mulheres que respeito e admiro, são mostradas e consumidas. Mulheres que levam o samba no pé, no sorriso, na raça. Que, ao invés de serem uma referência de beleza, são vendidas como frutas exóticas na temporada do carnaval. Mulheres que recentemente tem sido preteridas por “personalidades da mídia” em nome de uma pretensa “democracia racial” e muitas vezes com a anuências de algumas agremiações.
 
Qual é a sua opinião?
Porém, preciso dizer que os elogio racistas podem (e devem) subvertidos. Quando o assunto são as mulatas de quem já falei aqui, isso é bastante evidente. Ser uma mulata exportação também atesta um padrão de excelência e traduz qualidades como perseverança, força. 
Por isso fiz questão de usar como título desse post, um trecho do poema de Elisa Lucinda, Mulata Exportação, que resume tudo o que tentei dizer até aqui: “deixar de ser racista, meu amor, não é comer uma mulata” como muita gente gosta de pensar. E acrescento, “opressão, barbaridade, genocídio, nada disso se cura trepando com uma escura!”. Muito menos tecendo elogios racistas, diga-se de passagem. Quem o diz é a mulata exportação do poema. Sou eu, somos todas nós que já ouvimos essas porcarias.
Confesso que essa lista tem algo de muito pessoal, cujas entrelinhas tem muitas dedicatórias alimentadas por ironia. Nem por isso menos pertinente. Por isso adoraria ouvir a opinião de vocês. Esqueci algum elogio racista que te incomoda? Que te fez espumar de ódio, revirar os zóios e dizer algumas verdades? Você também acredita que esse tipo de comentário, como tudo aquilo que é racista e preconceituoso, diz muito sobre a pessoa que o faz do que sobre a pessoa a quem se destina?

A Cor da Relação

A Cor da Relação

“Demorei muito para me enxergar como uma pessoa potencialmente bonita. Na fase escolar, não me lembro de ter sofrido aquele racismo duro. Passei a enxergar isso por volta de 13, 14 anos, quando a gente se interessa pelos meninos. Todo mundo tinha um parzinho, menos eu. Atribuía isso ao fato de não ser bonita. Identificava que tinha uma estética diferente daquela que na escola era importante, como o cabelo liso, por exemplo. Enfim, essas coisas que, depois de adulto, a gente aprende a relevar. O meu papel, naquela época, era o da amiga que faz a ponte para as outras ficarem na festinha.É isso que pega na autoestima. Se eu ficasse com alguém, nunca tinha brecha para virar uma coisa a mais.
A família do branco tem sempre uma resistência maior. Era sempre um momento de tensão. Ficava na dúvida em dizer: ‘Avisa a seus pais que sou negra’. 
O que muita gente não enxerga é que a preterição das mulheres negras é algo que a sociedade nos ensina. A mulher negra supostamente é boa para o sexo e para as relações superficiais, mas não para o casamento, a maior prova disso é você estar com uma pessoa e ela até gosta de estar com você, se for em casa ou em locais de pouco fluxo de pessoas, as vezes ele já deixa claro que não quer relacionamento serio mas ai da um tempo a pessoa some e do nada aprece na rede socail relacionamento sério e veja só a namorada não é negra, é loira, é branca, é padrão aceito pela família por amigos e pela sociedade. Nesse jogo, as mulheres ficam relegadas até para os negros. É uma pequena morte você não ser viável para ninguém, nem para quem deveria ser seu par "natural".
 A sociedade não está preparada para a estética negra. Demorei muito para me enxergar como uma pessoa bonita, passível de relacionamento, e agora não tenho que passar por tudo isso de novo.
O casamento implica, inclusive, ter filhos, e filhos negros. E, para algumas pessoas, isso é um terror. Talvez nem associando à cor da pele, mas ao cabelo duro. Por isso, muitas mulheres negras começam a amenizar os traços para entrar em uma estética tida como mais bonita. Eu quero que meus filhos sejam negros, que tragam na pele o simbolismo que minha família tem. Sou criticada quando falo isso. Uma tia falava que a gente tinha que ter essa preocupação de amenizar os nossos traços. Acho isso uma violência.
As mulheres brancas, via de regra, se casam mais, consolidam família, permanecem mais tempo casadas. Antigamente, para a mulher branca, o futuro almejado era ser esposa e dona de casa. Já as mulheres negras tinham que trabalhar para se sustentar. Para as negras, que durante muito tempo nem poderiam se casar, a família acontecia sem a presença de um homem. Por isso, entendo que exista essa fixação de se casar no papel. É a afirmação de uma afetividade que sempre lhes foi negada.”

Coisas Que Eu Sei!

Quem nunca sofreu algum tipo de Preconceito?
Obviamente muita coisa mudou no Brasil desde o fim da escravidão, hoje temos uma Constituição Federal que garante diretos iguais a todas as pessoas, independente de raça ou cor. Embora na prática, mesmo existindo a previsão constitucional de igualdade, vejamos que o preconceito racial ficou enraizado na sociedade. O filme Quanto é que vale ou é por quilo?, dirigido por Sérgio Bianchi, retrata bem essa realidade de que, apesar de não existir mais a escravidão, algumas classes sociais ainda exercem o domínio sobre outras. O filme explora bem que até mesmo ações de caridade de pessoas ricas em prol das pessoas mais pobres, que hoje são predominantemente negras, são revestidas de segundas intenções. Tal situação é exposta de maneira que até mesmo através do bem-estar, a tranquilidade na consciência trazida por atos beneficentes, reside o interesse mesquinho pelo lucro. Acaba que essas ações apenas garantem o enriquecimento dos que são mais ricos e os mais pobres continuam sem oportunidade de melhorarem de vida. Todo esse contexto construído pelo filme nos provoca a refletir sobre a desigualdade social e como a questão racial está interligada a esse problema da sociedade brasileira.
O Brasil necessita de uma conscientização da população para reincluir de vez o negro na sociedade. Mecanismos legais que garantem isso existem. Mas, além disso, devemos nos esforçar e quebrar esse paradigma do passado de preconceito e subjugação do negro. A diversidade populacional do Brasil sempre existiu. Nada mais coerente que respeitarmos uma característica nossa em todos os âmbitos sociais.
O autor Yasser Oliveira menciona uma frase interessante: “O Preconceito do Passado, é a Ignorância do futuro!”. Então vamos quebrar esse laço com o passado de vez, não vamos repetir os mesmo erros. Vamos evoluir nosso pensamento e transformar esse país em lugar justo, para TODOS! Independente de questões raciais.